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2023-06-30

Empresas têm de apostar em ambientes centrados no bem-estar emocional das pessoas

“É preciso construir, com urgência, novos ambientes organizacionais centrados no bem-estar das pessoas”. Esta foi uma das principais conclusões do webinar ‘Competitividade e Saúde Mental nas Empresas’ que, organizado pela CEFAMOL e integrado no programa Talentum, reuniu, online, no dia 22 de junho, cerca de três dezenas de profissionais do sector.

Os dois oradores convidados, Marisa Vieira, psicóloga, e Artur Ferraz, consultor de gestão de pessoas, destacaram a importância de investir na saúde mental, como forma de assegurar o bem-estar na vida das pessoas, mas também das organizações.

“Está na hora de mudar mentalidades. Temos organizações com colaboradores que vestem a camisola e que se esforçam imenso, sob condições físicas e mentais muito adversas. As empresas têm de olhar para dentro, perceber o que se está a passar e mudar”, advertiram, salientando que “o futuro das empresas passa por estas temáticas”.

Destacando o compromisso da Organização Mundial de Saúde (OMS) no que diz respeito à saúde mental, Artur Ferraz contou que este passa por assegurar “o bem-estar que permite às pessoas realizar as suas capacidades e potencial, e lidar com o stress do dia-a-dia, de forma a trabalhar produtivamente”, mas, sublinhou, esse é um caminho que ainda tem de ser percorrido.
Revelou dados da farmacêutica Lundbeck Portugal, especializada em doenças neurológicas e psiquiátricas, que em 2022 realizou um estudo sobre a depressão. Mais de 33% dos inquiridos admitiu já ter tido essa doença diagnosticada, enquanto mais de 60% respondeu sentir que estava deprimido em algum momento.

A depressão, enfatizou, “tem repercussões na vida global das pessoas e também no seu desempenho profissional”. Mas o tema, admitiu, é ainda, e em muitos casos, tabu. Um cenário que, no seu entender, é imperioso mudar. “Falar disto é fulcral, de forma a tornar o ambiente de trabalho saudável. É um problema complexo que afeta as pessoas. Por isso, é preciso construir, com urgência, novos ambientes organizacionais centrados nas pessoas”, defendeu.

Ambientes saudáveis
Para Artur Ferraz, “é importante que as lideranças, sobretudo as intermédias, tenham um papel mais ativo na preocupação com o bem-estar das pessoas e promovam ambientes de trabalho saudáveis”. E para que estes o sejam, adiantou, é preciso que exista uma comunicação interna aberta e transparente, priorizando a saúde psicológica e o bem-estar dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, que se fomente o desenvolvimento pessoal e de carreira. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é uma outra questão essencial. Para além disso, destacou, os colaboradores têm de se sentir parte integrante da empresa, incentivando a sua participação e envolvimento no processo de tomada de decisão.

Se as empresas não estiverem atentas, os casos de ansiedade e o stress tendem a agravar-se e podem conduzir a situações de ‘burnout’. Por isso, defendeu, “as empresas têm de apostar em estruturas para tratar estas questões; criar locais onde as pessoas se sintam à vontade para expressar aquilo que sentem, mas que, depois e na prática, essa partilha resulte em mudanças efetivas nos locais de trabalho”.

Já Marisa Vieira, salientou que “se a base das empresas são as pessoas, o seu bem-estar é determinante para a vida saudável das organizações”. Por isso, no seu entender e ao contrário de uma expressão popular muito conhecida, “as pessoas são insubstituíveis”. E, adiantou, é fundamental que as empresas assim as considerem.

Deu nota de uma avaliação realizada em vários sectores profissionais da região centro, na qual foram auscultadas 956 pessoas. Nesta, frisou, um dos principais problemas relatados pelos entrevistados foram os distúrbios do sono. “50% dos inquiridos admitiu ter problemas em dormir”, enfatizou, reforçando que isto significa que “vão trabalhar cansados e, portanto, o seu rendimento tende a ser menor e vir, a prazo, a causar problemas à empresa”. Isto, revelou, “nota-se sobretudo nos locais de trabalho onde existem turnos”. Por isso, advertiu, “é fundamental repensar os horários de trabalho”.

Para Marisa Vieira, as empresas têm de mudar de atitude e começar, com urgência, a ouvir as suas pessoas. “É certo que as empresas estão focadas em produzir e não têm tempo para ouvir, mas é essencial que criem estruturas que o possam fazer”, defendeu.

Ainda citando a avaliação realizada, contou que as novas gerações admitiram ter de tomar medicação para conseguir descansar e gerir a ansiedade do dia-a-dia. “Todas estas questões associadas e esta ansiedade permanente conduz a muitas situações de ‘burnout’ nas empresas”, explicou. E isso, acrescentou, foi confirmado no estudo realizado. “53% dos inquiridos admitiram estar em ‘burnout’, enquanto 32% afirmaram sentir-se em risco de vir a estar”, destacou, considerando que se trata de números muito elevados e que é preciso ter em consideração.

Muitas vezes, esta ansiedade é resultante de alguns comportamentos agressivos nos locais de trabalho. “Tem de haver tolerância zero para estas situações: o assédio e a xenofobia são crime e é preciso agir sobre eles, até porque têm um enorme impacto na produtividade”, salientou. Por isso, defendeu, as empresas têm de criar estruturas que se dediquem ao tratamento dos assuntos dos colaboradores.

Têm de ser locais (e pessoas) que façam os colaboradores sentirem-se “à vontade para partilhar as suas preocupações”. Ou seja, uma espécie de “um porto seguro dentro da empresa, no qual a pessoa se sinta protegida e acompanhada”, enfatizou. “A minha sugestão é que as empresas apostem em equipas capazes para tratar estas questões e que, nestas, se incluam profissionais de saúde”, adiantou. É que, reforçou, “é preciso ver as pessoas e conquistar a sua confiança”.

 

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